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EM TERRA DE SINHAZINHAS E SENHORES DE ENGENHO, A RESISTÊNCIA DO HERÓI NEGRO

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  Recentemente, enquanto desenvolvia uma pesquisa sobre a recepção de desenhos animados entre crianças, jovens e idosos, um entrevistado chamou-me a atenção. Tratava-se de um garoto de doze anos. Quando perguntei a respeito de sua série preferida, ele respondeu prontamente que apreciava (e muito!) o desenho Super Choque . A justificativa? Por se tratar do único herói negro que conhecia. Fiquei surpreso com aquela resposta. Movido por uma certa inquietação desencadeada pela fala do garoto, comecei a pensar sobre a representatividade de negros no universo do cinema de animação. Como pesquisador, e na busca por fontes que resgatassem personagens negras ou pardas, encontrava, em minhas investigações, um quadro bastante previsível. Com o advento da Disney no início do século XX - e mesmo com as produções paralelas protagonizadas por Popeye, Betty Boop e o Gato Félix - raras eram as referências a perfis de protagonistas que destoassem de modelos já consagrados na própria literatura: he

E A REPRESENTAÇÃO DA POPULAÇÃO LGBT NO CINEMA DE ANIMAÇÃO?

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Ao longo da história do desenho animado, observa-se a criação,   consagração e prestígio de heróis tradicionais com perfis homogêneros: brancos, do sexo masculino, heterossexuais e representantes de segmentos abastados. Impondo-se como um fenômeno tanto nas séries matinais quanto no universo cinematográfico, ganhavam destaque por vivenciarem grandes aventuras e desafiarem altivos antagonistas. Revelavam-se, assim, por meio das figuras lendárias de semideuses, cavaleiros medievais, mutantes ou jovens dotados de força extraordinária. Na contramão dessa tendência, novos perfis de heróis – ainda que em minoria - conquistavam seus respectivos espaços, sobretudo no cenário contemporâneo. De Steven Universe a Kung Fu Panda , protagonizavam histórias que pareciam conceder vez e voz aos segmentos que, até então, encontravam-se na condição de coadjuvantes ou nem tinham espaço nas narrativas: mulheres, refugiados, índios, obesos, negros e gays . Nessa direção, uma obra que merece atenção

HE-MAN E OS MESTRES DO UNIVERSO

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Para entendermos melhor a proposta de Mestres do Universo (1983), é importante conhecer a animação pioneira nessa linhagem: O Poderoso Mighton (1967), dos estúdios Hanna-Barbera . Ambientando a narrativa em um cenário pré-histórico, apresentava-se a saga do jovem Tor, imerso em uma atmosfera selvagem, tétrica e perigosa. O diferencial de Tor estava em sua clava mágica, que, em momentos de tensão, era erguida e o transformava no guerreiro Mighton. Tog, seu dinossauro de estimação, igualmente ganhava poderes extraordinários, convertendo-se em um dragão imponente e implacável. A animação dialogava verticalmente com o herói da Marvel - Thor - tendo em vista que o protagonista possuía o mesmo nome do deus nórdico, o capacete córneo semelhante ao utilizado pelos vikingns e a clava como alusão ao martelo do folclore escandinavo. A máscara explicitava uma relação dialógica com Space Ghost e Batman , já reconhecidos na ocasião e com visual bastante similar. No fluxo de animações de 19

O FANTÁSTICO MUNDO DE BOBBY: O MENINO, A LINGUAGEM E A FANTASIA

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As crônicas protagonizadas pelo menino Bobby Generic estrearam, no Brasil, em 1990, exibidas diariamente pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Os episódios obedeciam a uma estrutura simples. Nas primeiras cenas, Bobby contracenava com seu criador, o humorista Howie Mandel. Apropriando-se da mesma fórmula de Mary Poppins (1964) e Uma cilada para Roger Rabbit (1988), mesclava-se realidade e animação, pois o próprio Mandel interagia diretamente com sua personagem. Os dois debatiam rapidamente acerca do tema do dia, até que se iniciasse o episódio. Bobby integrava uma família de classe média, composta, basicamente, pelos pais – Howard e Martha – e pelos dois irmãos – Kelly e Derek. Todos da casa desfrutavam da companhia do cãozinho Roger, parceiro incondicional de Bobby em suas traquinagens, e da desengonçada aranha de pelúcia Webby. Menino dinâmico e cheio de criatividade, não conseguia compreender o universo adulto, e por isso se refugiava no intrincado e mirabolante mundo de