O FANTÁSTICO MUNDO DE BOBBY: O MENINO, A LINGUAGEM E A FANTASIA

As crônicas protagonizadas pelo menino Bobby Generic estrearam, no Brasil, em 1990, exibidas diariamente pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Os episódios obedeciam a uma estrutura simples. Nas primeiras cenas, Bobby contracenava com seu criador, o humorista Howie Mandel. Apropriando-se da mesma fórmula de Mary Poppins (1964) e Uma cilada para Roger Rabbit (1988), mesclava-se realidade e animação, pois o próprio Mandel interagia diretamente com sua personagem. Os dois debatiam rapidamente acerca do tema do dia, até que se iniciasse o episódio.

Bobby integrava uma família de classe média, composta, basicamente, pelos pais – Howard e Martha – e pelos dois irmãos – Kelly e Derek. Todos da casa desfrutavam da companhia do cãozinho Roger, parceiro incondicional de Bobby em suas traquinagens, e da desengonçada aranha de pelúcia Webby. Menino dinâmico e cheio de criatividade, não conseguia compreender o universo adulto, e por isso se refugiava no intrincado e mirabolante mundo de sua imaginação. Em seus pensamentos, as analogias, os exageros e os conceitos abstratos  tornavam-se objetos ou seres concretos, tangíveis, configurando situações absolutamente tensas que, muitas vezes, o importunavam. Na verdade, nota-se a necessidade de fantasia por parte da criança, dado o esforço em tentar entender a rede de signos saturada de significação que permeava a comunicação entre adultos.

A abertura do seriado já sugere o caráter aflorado da imaginação de Bobby. A sequência de cenas, insinuando o movimento da câmera em movimento, acompanhava as estripulias do menino em seu triciclo pelas curvas sinuosas e labirínticas da casa. Recuperava-se, na esteira da intertextualidade, o clássico O iluminado (1980), suspense adaptado do romance de Stephen King, em que o menino Danny, também em um triciclo, percorria os inúmeros cômodos da misteriosa estância de veraneio. Danny mostrava-se perturbado por visões de assassinatos sangrentos, enquanto Bobby mergulhava na própria inventividade para compreender o meio em que estava inserido. Por isso, na abertura, seu mundo subjetivo e fantástico, norteado pelo nonsense, era apresentado para o espectador, acompanhando-o nas expedições pelo espaço sideral, pelas profundezas marítimas e pela atmosfera dos dinossauros.

O fantástico mundo de Bobby (1990) provavelmente esteja entre as séries mais criativas da época. Destoando da estética das narrativas híbridas (como He-Man, She-Ra e Thundercats), a ficção era desenvolvida com base no olhar de um menino, cuja interpretação do cotidiano guardava um mundo particular, o mundo da linguagem, escancarado ao espectador nos momentos de tensão e devaneio. Os conflitos por ele vivenciados encontravam-se no plano semântico, e em especial na articulação entre a significação denotativa e a significação conotativa. Tendo em vista que a família tivesse dificuldades em orientar o caçula a superar seus dramas, era o garoto, sozinho, quem desvendava um universo repleto de signos, ambiguidades, metáforas, hipérboles, ironias e uma infinidade de figuras de linguagem.

 Fernando Luigi


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